Caderno Crítico

Saturday, April 01, 2006

O Insucesso Escolar no país asocrático.

"Não há dúvida que o insucesso escolar é talvez o fenómeno mais deprimente, mais negativo que causa um atraso estrutural a Portugal e condiciona o nosso desenvolvimento", considerou o primeiro-ministro, José Sócrates.

Fonte: Jornal de Notícias
Tal como o prezado primeiro-ministro desta nossa República Portuguesa (que de socrático nada tem, numa República Portuguesa que cada vez menos é uma res publica) o insucesso/abandono escolar é sem qualquer sombra de dúvida deprimente e negativo. O engenheiro Sócrates parece alienado das condições não menos deprimentes e depressivas que levam ao insucesso/abandono escolar; factores que ao nível social se caracterizam pela carência de algumas famílias portuguesas em poder enviar os seus filhos à escola (apesar do nosso ensino gratuito, os nossos manuais de ensino continuam a manter um preço muito pouco conveniente, apenas para citar uma das dificuldades) e factores ao nível do próprio ensino português em geral, quer ao micronível de cada comunidade escolar. É facil falar no insucesso/abandono escolar enquanto fenómeno de natureza deprimente e negativa, mas é díficil agir sobre ele se não interpretarmos o problema enquanto algo global, ligado por relações de causalidade que por vezes são complexas. É necessário agir sobre vários campos para garantir que as crianças não só tenham de ir à escola, mas que mais do que o sentimento de obrigação que as compele a estarem de corpo presente numa sala de aula, elas tenham gosto em frequentar a escola. É necessário agir sobre a infraestrutura escolar: existe um sem-número de escolas onde os alunos estão sujeitos ao frio, pois não existe um aquecedor na sala. Existem escolas que longe de reunirem as condições necessárias ao bem-estar do aluno, apresentam-se como lugares desolados. O Ensino é subsidiado, e este é um facto. Mas é necessário melhorar a eficiência do S.A.S.E. É necessário fornecer os manuais aos alunos atempadamente, não pedir aos pais que os comprem e que esperem que a escola, alguns meses depois, os reembolse. Por vezes os encarregados de educação não podem dispender capital nos ditos manuais. Talvez a adopção de um manual universal não seja a melhor solução (traz diversos problemas, como a falta de imparcialidade relativamente a determinados assuntos, especialmente patente nos manuais de História) mas é sem dúvida uma solução melhor face aos preços praticados pelas editoras - alguns manuais podem chegar facilmente aos 40 euros. Sócrates fala-nos de um choque tecnológico. Não sendo eu economista, e não conhecendo as implicações económicas da medida que vou enunciar, será que as consequências económicas a longo prazo causadas pelo atraso estrutural são preferíveis a equipar cada carteira das nossas escolas com um aparelho informático (um terminal) que substituiria a necessidade de manuais caríssimos? E se os governos anteriores tivessem ao menos planeado tal medida (porque ao menos residiria no plano das ideias) e tivessem investido menos nos nossos estádios? Será preferível investir num Centro de Formação para a Acefalidade (ou seja, o Estádio de Futebol) em detrimento de uma Escola? (ou talvez os nossos governantes sejam adeptos de uma das grandes medidas de controlo social, utilizadas desde a época do Império Romano: Pão e Circo) A sobrecarga que é imposta sobre os ombros dos nossos professores não contribui em nada para o melhoramento da educação portuguesa. Afinal, as aulas de substituição consistem em entreter os meninos do básico entretidos em detrimento da saúde mental do professor. A tal medida que obriga os docentes a permanecerem mais tempo dentro do recinto escolar, frequentemente a fazer rigorosamente nada ou a executarem tarefas perfeitamente inúteis contribui para o estado lastimável das coisas. Esquece-se a ministra que os professores são dos profissionais que mais trabalho levam para casa, e que o tempo que passam na escola a fazerem absolutamente nada de produtivo poderia ser dispendido a preparar aulas produtivas, a rever testes que apresentariam melhores resultados, fruto de aulas produtivas que poderiam ser preparadas por professores com tempo que não é gasto em actividades pouco produtivas. Isso beneficiaria os professores, que não dispenderiam tempo em actividades que não lhes dão prazer algum, e consequentemente os alunos seriam os grandes beneficiados. O dinheiro investido em transportes de luxo para os integrantes do governo asocrático poderia ser distribuído pelas bibliotecas escolares, com fim à aquisição de mais obras, mais equipamento informático, e para a contratação de indivíduos titulares de uma formação em biblioteconomia (não quero assim deixar de manifestar a minha profunda admiração pelos professores e auxiliares de acção educativa que mantêm as nossas bibliotecas escolares em funcionamento). Deixo também uma nota negativa referentemente à má estruturação (e por vezes pobreza) dos conteúdos programáticos leccionados nas nossas escolas. A mesma má estruturação que afecta tantos alunos no momento dos Exames Nacionais. E outra nota ainda ao regime de faltas vigente no sistema educativo, que contribui grandemente para a remoção dos alunos desmotivados relativamente a conteúdos programáticos que não raras vezes paupérrimos, e para uma percentagem significativa desses alunos menos autónomos, castrantes. Reitero a minha afirmação de que é necessário agir sobre vários campos da nossa realidade social e intelectual para incentivar os nossos estudantes a frequentarem as escolas em vez de as desertarem. Eu sei disso. O Governo do Engenheiro Sócrates sabe disso. Falta-lhe agora agir sobre o problema de forma eficiente. Na próxima crítica ao nosso sistema de ensino, debruçar-me-ei sobre a problemática da formação oferecida nas nossas escolas (e a forma como é ministrada): A Escola enquanto Formadora de autómatos do sistema em detrimento de livres pensadores.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]



<< Home