Caderno Crítico

Friday, March 24, 2006

Do acriticismo patente na "Geração Morangos"

Todos os dias somos bombardeados por anuncios. Desencontro-me entre as, seguramente, centenas de anuncios cuja mensagem apela à compra de mais um produto. Compre. Mesmo que não necessite. Compre. Gaste dinheiro. Mantenha a circulação de divisas, pois "o dinheiro não foi feito para se guardar, mas sim para gastar". Mas esta crítica não tem por objectivo discutir os pilares centrais do capitalismo. A televisão, enquanto meio de dissipação cerebral, não se fica pelos anúncios a partir dos quais se faz financiar; também as suas pobres produções dramáticas, vulgo telenovelas, também se encontram tomadas de assalto pela fúria do consumo. Sendo o exemplo mais gritante a obra dramática que se transformou no símbolo de uma geração: sim, refiro-me a "Morangos com Açucar". Esta fantástica produção da TVI lidera uma autêntica revolução cultural marcada pelo acriticismo, pela futilidade e pelo superfluo: basta assistir a um episódio dos "Morangos" e visitar uma das muitas Escolas Secundárias portuguesas. O leitor pensará, decerto, ter entrado num dos estúdio de gravação da dita telenovela e não num estabelecimento de ensino secundário. Modas replicam-se, comportamentos imitam-se, resumem-se e discutem-se os amores e dissabores das personagems da dita "obra". Mas o mais alarmante é assistir à transformação mental que os jovens sofrem quando expostos a tamanho lixo televisivo: um autêntico dispositivo de reprogramação mental. Dos mais eficazes, numa sociedade onde a acefalidade, o acriticismo, e valores como o consumo, o materialismo e a ausência de código moral autónomo imperam. Mas não são apenas os jovens os alvos do braço envangelizador do capitalismo: os pais são os primeiros a incentivar o consumo, adquirindo o último grito da computação informática móvel, o último grito em termos de comunicações móveis, o mais recente modelo daquela aparelhagem sonora. Em suma, adquirindo tudo o que o vizinho do lado tem, e tudo aquilo que o vizinho do lado não tem mas gostaria de ter. Adquirem todos estes produtos, mas alimentam-se a sopa e pão durante os restantes dias do mês. Adquirem-nos, na tentativa acéfala, mas infelizmente bem sucedida de impressionar o tal vizinho do lado. E assim, a partir das obras desprovidas de conteúdo que passam nas nossas televisões, dá-se o mote para a destruição de qualquer sentido critico, para qualquer interpretação minimamente fundada da nossa realidade. A realidade da minha geração passou a ser a música que o galã da novela ouve, a roupa que veste, os gostos pelos quais nutre interesse, etc. Dá-se assim uma generalização perigosa da realidade colectiva, que leva à perda de identidade individual/colectiva. O que é de lamentar, mas que parece ter-se tornado num processo irreversível.

1 Comments:

  • brutal! isso é tal e qual o que eu tenho andado a dizer ha imenso tempo... a nossa ideia é igualzinha: pensa la um pouco... seculo XX.. a decada de 60 ficou marcada pelo "peace and love" i akelas teorias.. a decada de 70 com a sua "psicadelica" etc... em portugal ficou marcada pelo glorioso 25 de abril.. a decada de 80 ficou marcada pelas razoes que todos conhecemos.. =) a decada de 90 ficou marcada pelos nirvana e pela geraçao X e a sua filosofia... e a nossa decada? vai ficar marcada pelos morangos? pela "musica" a que chamam ao hip hop? ao eminem? as bandas que duram 2 semanas? qem sera a figura da decada? da decada de 90 temos o kurt kobain... da de 60 matrin luther king.. da nossa? o dinO? =\ talvez o capitalismo e a cultura massificada de musica que nao possui encanto e de uma cultura suburbiana de sobrevivencia do mais forte... e pelas produçoes da TVI...

    By Anonymous Anonymous, At 5/10/2006 03:07:00 PM  

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